Sonic the Hedgehog (1991)
Consoles: Mega Drive/Genesis
Lançamento: 23 de Junho de 1991
Consoles: Mega Drive/Genesis
Lançamento: 23 de Junho de 1991
Começo minha jornada com a série Sonic, logicamente, indo pelo começo. Sonic the Hedgehog foi lançado em 1991, como parte da estratégia da SEGA em trazer um novo mascote que pudesse competir contra o Mario e dar uma força para a SEGA conseguir superar a Nintendo.
Para isso, vou lhe dar o contexto de como se encontrava o mercado de videogames no final dos anos 80 e em 1990, mais especificamente, nos Estados Unidos. O Nintendo Entertainment System era um sucesso absoluto, onde basicamente o termo "videogame" e "Nintendo" eram quase vistos como sinônimos. Em 1986, 2 milhões de unidades do NES foram vendidas, assim como 9 milhões de cartuchos, e os números foram quase o dobro pra 1987. Na frente dessa onda toda se encontrava o Mario, o mascote da Nintendo.
Enquanto isso, a SEGA não se encontrava nas melhores da situação com o Master System nos EUA. Lançado pra competir contra o NES, o console só conseguiu vender 125.000 unidades em 1986, quando a estimativa original da SEGA era de vender 750.000 consoles no ano.
Mas o motivo pelo Master System não ter rendido muito bem não é o que alguns esperam. A Nintendo basicamente convencia vendedores e lojas a venderem somente seus jogos e a aparelhos. Não só isso, como também através de regras de licenciamento, a SEGA só conseguiu a participação da Activision e Parker Brothers para desenvolverem jogos third party para seu aparelho. Outro fator é de que somente duas pessoas foram encarregadas pro marketing do Master System, o que sabe, não é o suficiente.
Até mesmo no Japão o Master System não estava rendendo o suficiente, com somente ocupando 10% do mercado de consoles vendidos no país. Por mais que o console tenha vendido bem em territórios como a Europa e o Brasil, o fator decisivo que a SEGA precisava era ter um console que rendesse e vendesse nos EUA e no Japão.
Com isso, a SEGA sentiu que estava na hora de se reinventar no mercado de consoles. O Mega Drive, também conhecido como Genesis, foi lançado em 1988, apostando no diferencial de que o console era de 16 Bits, e possuía gráficos mais similares aos jogos de arcade.
Outro fator que fez a SEGA procurar se reinventar foi com o mascote da corporação. Na época, o mascote usado era o Alex Kidd, um menino que resolvia seus problemas na base de pedra, papel e tesoura. Apesar do personagem ter seus fãs até hoje, não possuía o carisma necessário para conseguir ir de frente com o Mario.
Em 1988, a SEGA of Japan realizou um concurso entre seus funcionários para ver quem conseguia bolar um novo mascote que pudesse rivalizar com o Mario em popularidade. Hayao Nakayama, presidente da SEGA na época, mencionou que queria um personagem tão icônico como o Mickey Mouse. Vários designs foram propostos, mas entre as pessoas envolvidas, o design de Naoto Oshima, que envolvia um ouriço cartunesco.
Naoto comenta que se inspirou no design de personagens como Felix, o gato e Mickey Mouse para o design de Sonic, o que dá pra ver. O personagem parece ter saído da era dourada de animação americana. Um dos motivos em Sonic ter sido um ouriço seria pelo animal ser um pet relativamente popular no Japão na época, assim como era um animal relativamente veloz, assim como ele podia se curvar no formato de uma bola, o que se encaixaria na mecânica principal do jogo.
Entra outra figura chave para a criação do Sonic, o Yuji Naka. Yuji Naka ganhou uma reputação na SEGA por suas habilidades lendárias com programação (onde na época tudo era feito em Assembly, loucura). Naka sempre demonstrou paixão por veículos velozes, onde até hoje ele posta no seu Facebook imagens de carros potentes. Sendo esse um dos fatores que decidiu fazer o jogo ser focado em velocidade.
Outro fator que focou o jogo ser focado em velocidade vem do suposto rival da série Sonic, o Mario. Yuji Naka comenta que quando jogava Super Marios Bros., de 1985, ele sempre procurava passar pelo primeiro mundo o mais rápido possível, já que na época ainda não era muito comum a ideia de salvar o progresso. Isso inspirava o Yuji a querer ir cada vez mais e mais rápido, o que acabou levando à filosofia de velocidade da série Sonic.
Sonic the Hedgehog foi lançado em 23 de Junho de 1991 nos Estados Unidos, acompanhado de várias reviews positivas e elogios. O jogo viria a vender 3.7 milhões de cópias até Outubro de 1992, colocando o personagem Sonic no mapa.
Eu mesmo não conseguiria dizer a quantidade de vezes que já joguei esse jogo, foram muitas. Eu tenho o layout de Green Hill Zone memorizado na minha cabeça. Acho que não preciso dizer que gosto muito desse jogo. Mas mesmo assim, ele tem alguns elementos que deixam aparente que é o primeiro título na série, elementos que viriam a ser trabalhados e refinados em futuros títulos da série. Porém, não deixa de ser um título extremamente sólido e bem trabalhado.
A primeira zona do jogo, Green Hill Zone, é sobre dar a melhor impressão possível para os jogadores, e eles certamente souberam como acertar nisso. Green Hill é icônica e encontra sendo reusada até hoje por um motivo. O level design é bem intuitivo, mas encoraja a exploração aos jogadores. Hirokazu Yasuhara sendo o responsável pelo level design do jogo, tendo encontrado um equilíbrio perfeito entre velocidade e exploração em boa parte das fases.
Green Hill, sendo acompanhada por uma música extremamente icônica, excelente level design, visuais, resulta numa das melhores fases em toda série Sonic.
Falando em música, ela é um dos aspectos da série Sonic que existe um consenso. Por mais divisivos que os jogos sejam, a maioria deles costumam ter uma trilha sonora que é recebida de uma maneira favorável pela maioria.
Imagem de Masato Nakamura. |
Para Sonic 1, a trilha sonora foi composta por Masato Nakamura, que vem do grupo musical "Dreams Come True". A música que ele trouxe para o mundo do Sonic é amada até hoje pelos fãs. Quando entrevistado sobre as composições que ele fez para o jogo, ele mencionou que queria fazer composições que remetessem a músicas que poderiam ser escutadas em um filme. Recentemente, o grupo Dreams Come True fez uma versão de Green Hill Zone com letras, que foi usado em um comercial da marca de chá ITO Green, e é absolutamente incrível.
Composições como Spring Yard, Star Light e Scrap Brain Zone conseguem estabelecer o clima perfeito para a fase, assim como são extremamente memoráveis, ao ponto de que me fez escutar elas fora do contexto dos jogos. Estou desenhando? Colocar um Star Light Zone para ficar curtindo o momento enquanto desenho.
Green Hill chega ao final marcado com uma confrontação com ninguém mais, ninguém menos que o Dr. Eggman. Chamado de Dr. Robotnik no ocidente na época, o cientista maluco foi também concebido pelo Naoto Oshima, como um dos vários personagens propostos para serem o mascote da SEGA em 1988. Na época vestindo pijamas. Seu visual rapidamente lembra de personagens como Motro, do Studio Ghibli. Naoto comenta que se inspirou no 26º Presidente dos Estados Unidos, Teddy Roosevelt, para o visual do personagem.
Eggman viraria um personagem extremamente icônico por conta própria, e é facilmente meu segundo personagem favorito de toda a série. A maneira como ele se comporta como uma criançona, mas ao mesmo tempo é capaz pegar o espectador de surpresa mostrando seu lado mais sádico e tirânico, deixa o personagem extremamente cativante. Sonic continuaria a lutar contra o Eggman em futuros jogos, desenhos, gibis e filmes. É uma rivalidade eterna, se vai ter Sonic, tem que ter o Eggman.
Os bosses de Sonic 1 são extremamente criativos e memoráveis. Ao final de cada zona Sonic vai encarar o Robotnik, que bolou alguma nova máquina para derrotar o ouriço. No início, o jogador pode penar contra ele, mas um jogador veterano como eu, tem os padrões decorados, hahaha. Mas isso não tira do fator de diversão presentes nos bosses. A imagem do Robotnik com uma bola de xadrez em baixo do seu Egg Mobile é uma que se encontra sendo usado em diversas mídias da série Sonic, indo de gibis a desenhos.
Porém, ao jogar Sonic 1, o jogador rapidamente começa a notar um padrão. Zonas rápidas são intercaladas com zonas mais lentas, focadas em plataforma. Uma Green Hill é seguida por uma Marble Zone, que consiste no jogador ter que ficar esperando bastante pra várias coisas acontecerem. Spring Yard Zone é seguida pela Labyrinth Zone, uma zona que tem infâmia até hoje na comunidade.
O que traz ao ponto de que Sonic the Hedgehog é 50% velocidade, 50% plataforma. O jogo não deixa de ser sólido, e eu mesmo vou defender um pouco as fases de plataforma, que acho que tem seu valor de entretinimento. Porém, eu estaria mentindo se eu não prefiro as zonas onde Sonic é permitido ir mais rápido.
As zonas de plataforma também tem a tendência de serem mais lineares, sem muitos caminhos alternativos para o Sonic explorar, o que acaba limitando as maneiras pro jogador de como ele pode rejogar essas fases.
Labyrinth traria outro aspecto da série Sonic que é usado até hoje. O maior ponto fraco do Sonic é a água. O herói azul não sabe nadar, uma ideia que foi implementada após o Yuji Naka erroneamente acreditar que ouriços não sabiam nadar. Quando Sonic cai em um corpo de água no jogo, pode esperar o Sonic afundar que nem uma pedra até o fundo. Nunca é explicado em detalhes o motivo disso nos jogos, com algumas mídias como Sonic Underground passando a ideia de que Sonic tem aquafobia, ou seja, medo de corpos de água.
Após uma certa quantidade de tempo debaixo da água, uma contagem regressiva começa, e junto com ela, uma música que está na cabeça de muitos jogadores até hoje. Por mais que esse aspecto tenha trazido uma ansiedade incontável para muitos, é um aspecto da série extremamente memorável, que é carregado até os jogos de hoje. Se eu ver um corpo de água em um jogo do Sonic, é melhor que a música esteja presente.
Outro elemento que devo comentar do jogo é uma mecânica extremamente icônica a série Sonic, sendo ela a dinâmica envolvendo os anéis. Quando Sonic pega anéis, eles contam como um tipo de barra de saúde pro Sonic. Eles oferecem ao Sonic a possibilidade de tomar dano sem morrer. Ao ser atingido, os anéis saem voando pra fora dele, com um efeito sonoro memorável.
O jogo contém alguns power ups para o Sonic coletar, que estão escondidos em monitores que o Sonic deve quebrar. A variedade que vem com eles é básica, mas mesmo assim, permitem diversificar a jogabilidade. Temos o escudo, que permite Sonic tomar um acerto, sem precisar perder os anéis. Temos a invencibilidade, que deixa o Sonic, bem, invencível. E por fim, temos os Speed-Up Shoes, que ao pegá-los, Sonic fica ainda mais rápido.
Porém, o aspecto que faz Sonic 1 como um todo ser extremamente satisfatório de se jogar nas suas fases velozes é sua física. Programada por Yuji Naka, a maneira como Sonic pode obter velocidade rolando morros abaixo, compõe a filosofia presente em todos os jogos da era clássica do Sonic. Velocidade é algo que se conquista nesse jogo, e é o que acabou atraindo uma parte considerável dos fãs para série.
Em quesito de história, Sonic 1 é extremamente simples. Porém, já tem um pouco de lore para se mastigar. Sonic e Eggman se conhecem há alguns anos, já sendo rivais de longa data, com o ouriço sempre se opondo ao cientista tirânico. Porém, Eggman acaba descobrindo a existência das Esmeraldas do Caos na South Island, uma ilha misteriosa que se move pelo mundo todo, sem um ponto fixo.
As Esmeraldas do Caos sendo um fator que faz o Eggman ficar cada vez mais próximo de conseguir conquistar o mundo usando seu exército de robôs. Cabe ao Sonic ir até a South Island, libertar os animais da ilha dos robôs onde são aprisionados, pegar as esmeraldas antes do Eggman, e salvar o dia.
É uma história simples, mas apesar disso, com o pouco material que o jogo tem, dá pra conseguir inferir alguns elementos da personalidade de tanto o Sonic como o Robotnik. Se não controlar o Sonic por um período de tempo, o mesmo irá começar a bater seu pé impacientemente, mostrando ser um cara impaciente, que quer tudo já feito na hora, e pode apostar que ele não ficar parado pra esperar.
Enquanto isso, o Robotnik mostra um ego enorme quanto às suas invenções, sempre soltando uma risada antes de encarar o Sonic, e inevitavelmente quando suas invenções são derrotadas, o mesmo tem seu orgulho explodido (literalmente) na sua cara, e bate em retirada. Tudo isso com expressões cômicas.
Os Estágios Especiais são um aspecto da série que também são introduzidos nesse título, onde o Sonic consegue acessá-lo se chegar ao final de um ato com mais de 50 anéis, onde ele pula num anel gigante. Nessas fases, o objetivo do Sonic é pegar as esmeraldas do caos em uma série de labirintos que ficam girando constantemente, com o jogador tendo que acertar esferas que mudam a orientação da rotação, ou a velocidade em que a fase gira.
Os estágios especiais de Sonic 1 são bem hit ou miss comigo, de vez em quando, tem momentos onde somente a habilidade não vai ser necessária, com o jogador tendo que depender um pouco da sua sorte para conseguir pegar as esmeraldas. Eles não estão entre os meus favoritos da série. Não são ofensivos, mas certamente são de testar a paciência do jogador ocasionalmente.
Porém, mesmo tendo em mente esses negativos, isso não consegue tirar o brilho do título que é Sonic the Hedgehog. O jogo apresenta uma base extremamente sólida, jogabilidade extremamente sólida, mecânicas icônicas, uma trilha sonora excelente, e uma física impecável.
Eu dou para Sonic the Hedgehog a nota de [8/10]
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