sábado, 11 de setembro de 2021

JOGOS 8-BIT: Sonic the Hedgehog (1991)

 

Dessa vez, o que o Sonic está negando é o blast processing.
Sonic the Hedgehog (1991)
Consoles: Master System & Game Gear
Lançamento: 25 de Outubro de 1991

Apesar do Master System nunca ter sido a receita de sucesso que a SEGA queria na América do Norte e Japão, a história é outra na Europa e no Brasil. A Nintendo, na época, não se importava muito com o mercado de console em territórios como Brasil. Isso meio que deixou uma lacuna vaga, sendo a oportunidade perfeita para a SEGA firmar seu pé no mercado local.

Com isso, o Master System chegou de vez no Brasil em 1989, e acabou sendo um sucesso absoluto no país. O nome Tec Toy é bastante familiar para aqueles que são fãs da SEGA em território Brasileiro. A Tec Toy é uma fabricante de brinquedos brasileira, onde através do Master System, começaram uma parceria com a SEGA que perdura até hoje. Ocasionalmente, no Brasil, consoles como o Master System e o Mega Drive são relançados, com vários jogos acoplados na memória. Apesar de alguns desses aparelhos terem uma emulação questionável, foi uma porta de entrada para várias crianças para o mundo dos videogames. Mesmo com o Mega Drive tendo sido lançado um ano depois no Brasil, o Master System continuou sendo a alternativa mais popular em várias casas, justamente pelo seu preço menor comparado ao seu sucessor.

Também vale a pena também mencionar o sucesso do Master System na Europa. O console conseguiu ir de frente a frente com o Nintendo Entertainment System nesse território. Em 1990, o SEGA Master System ainda era o console mais vendido na Europa, mesmo com a presença de aparelhos como o Mega Drive e o Nintendinho.

Tendo em mente a popularidade do aparelho nesses territórios, a SEGA estava bem ciente de que seu mascote, Sonic, também tinha que marcar presença no Master System, visto que muitas casas ainda possuíam o console. Por mais que não fosse os EUA ou o Japão, esse mercado ainda não devia ser ignorado.

Outro motivo para uma versão 8-Bit de Sonic the Hedgehog ser feita também seria a SEGA querendo a presença da sua estrela no seu console portátil, o Game Gear, que estava indo frente a frente com o Game Boy, da Nintendo.

Já agradeceu a este homem por termos Sonic 1 para Master System e Game Gear hoje?

O desenvolvimento de Sonic 1 em 8-bits teria seu começo quando o compositor Yuzo Koshiro, conhecido por compor a trilha sonora de The Revenge of Shinobi (1989), disse para a SEGA enquanto compunha a música que ele também conseguia desenvolver jogos. Com isso, foi pedido a ele pelo Tomio Takami, gerente geral da SEGA of Japan, para desenvolver uma versão 8-bits de Sonic the Hedgehog. Como a SEGA não podia assinar contratos com indivíduos, Koshiro fundou a empresa chamada de Ancient, para o desenvolvimento do jogo poder começar. Envolvida na empresa, estava a família dele. Dirigindo o jogo foi a sua irmã, Ayano Koshiro, e sua mãe, Tomo Koshiro, teve um papel de "por trás dos bastidores".

O jogo foi desenvolvido primeiramente para o Game Gear, porém, como o console possuia um hardware similar ao do Master System, não foi muito difícil a conversão do jogo de um console para o outro. Algo que fica claro no jogo é que apesar de inspirado e ter como base o jogo de 16-bits, os Koshiros decidiram fazer um jogo completamente diferente do original, o que acabaria sendo um fator a favor do seu jogo. Yuzo Koshiro acabaria compondo a trilha sonora para o jogo, usando somente três das músicas compostas por Masato Nakamura no jogo final, enquanto o resto das composições foram feitas por ele mesmo.

O menor motobug do mundo.

Os Koshiros tiveram uma boa sacada ao fazer o jogo ter diferenças comparadas à sua versão 16-bit. O Master System, inevitavelmente, possui suas próprias limitações no que pode fazer, e não conseguiria trazer uma experiência que seria idêntica ao original. Com isso, o jogo é adaptado à realidade do Master, oferecendo não só ideias novas para fases pré-existentes, assim como introduz novas fases que não estão presentes na outra versão.

Em umas certas maneiras, Sonic the Hedgehog para Master System e Game Gear tem uns elementos que supera o original. O jogo oferece um ato final e climático entre Sonic e Eggman no formato da Sky Base, o que me dá impressão que pode ter servido de inspiração para a Sky Fortress Zone em Sonic 2. Diversas grades de choque espalhadas pelo nível oferece a tensão e dificuldade que uma fase final requere.

Desenvolvedores de Sonic Mania fazendo Act 2 de Flying Battery Zone: WRITE IT DOWN, WRITE IT DOWN!

Zonas como Bridge Zone e Jungle Zone também oferecem um novo clima para o jogo, dando um visual sereno e vibrante, usando sabiamente a paleta limitada dos consoles 8-bit. O jogo é visualmente impressionante, com um estilo de sprites reminiscente do jogo original, onde o Sonic, na sua maioria, é feito sem contorno pretos. Isso ajuda a passar a impressão de que nem é necessariamente um título de 8-bits, mostrando as capacidades do Master System.

O jogo também busca dinamizar a experiência introduzindo gimmicks diferentes na maioria das zonas. Bridge Zone tem uma fase de autoscroller, Jungle Zone tem uma fase onde a fase é "engolida" verticalmente conforme o Sonic avança, Scrap Brain Zone possui labirintos no qual o jogador tem que descobrir a sequência que deve ativar botões para finalizar a fase.

Os resultados variam em como essas gimmicks são eficazes. Até hoje eu acho a ideia de um autoscroller a mais estranha pra um jogo do Sonic. O propósito de Sonic é correr rápido, e o fato de que uma fase autoscroller dita o ritmo em que Sonic deve viajar pela fase realmente vai um pouco contra o propósito em um jogo de Sonic.

Preciso correr num ritmo dentro dos parâmetros no qual essa fase me permite.

Em quesito de controles, eles são bastante intuitivos, e responsivos. Porém, a física não é a mesma dos jogos de Mega Drive, um dos aspectos que comentei na minha review anterior foi que parte do motivo que fez o Sonic do Mega Drive tão famoso, além do seu level design, foi sua física extremamente satisfatória. Porém, devo comentar que apesar da física do Master System não ser uma réplica perfeita do Mega Drive, ela é funcional, e ainda consegue ser usada pra ganhar impulsos de velocidade.

Um aspecto da versão de 16-bit que não tá presente na versão de 8-bit são os famosos loops no qual o Sonic corre por. O motivo, aparentemente, seria que ainda não se sabia o método perfeito de implementar essa mecânica nas fases em um hardware inferior. Pra compensar a ausência de loops, o jogo coloca ocasionalmente nas fases curvas que lançam o Sonic, uma que, pode ser tão quebrada, que permite o Sonic concluir a fase em 20 segundos. É um aspecto divertido, que compensa um pouco pela ausência dos loops.

Observe essa coisa lançar o Sonic pro final da fase.

Outro aspecto do jogo que quero comentar são os bosses dele. Neles, que nem o jogo para Mega Drive, o Eggman constrói algum tipo de máquina no seu Egg Mobile para derrotar o Sonic. Porém, o jogo adota a filosofia de nenhum anel pro Sonic coletar nas batalhas contra o Eggman. Ou seja, toma dano, morreu. Isso meio que acaba fazendo esse jogo ser desafiante em algumas ocasiões.

A experiência varia pra cada um, mas meu Deus, o chefe da Jungle Zone é ridiculamente difícil. O Sonic, quando tá com escudo, ao tomar dano, não tem um tempo onde fica brevemente invencível, diferente do jogo de Mega Drive. Isso permite o Eggman dar um kill instantâneo no Sonic, mesmo com escudo, o que certamente não foi justo. Eu não posso mencionar isso o suficiente, o boss da Jungle Zone foi um salto de dificuldade enorme pra mim.

O que é irônico, porque o jogo também é acompanhado por um dos chefões mais fáceis da série. Na Green Hill Zone, ao invés do Eggman montar algum tipo de máquina no seu Egg Mobile, ele simplesmente chega voando, e tenta atropelar o Sonic. O chefe fica ainda mais fácil na versão de Game Gear, onde o jogador pode dar quase nenhum tempo pro Eggman realizar seu ataque.

"Vem pro papai!"

O enredo do jogo, que nem o original, centra na rivalidade de Sonic e Robotnik, e como ambos estão correndo contra o tempo pra ver quem consegue encontrar todas as Esmeraldas do Caos.

Diferente do conceito apresentado pela contraparte de 16-bits, Sonic the Hedgehog para Master System e Game Gear faz com que o Sonic encontre as Esmeraldas do Caos explorando as fases, ao invés de encontrá-los em estágios especiais. 

Eu sou um fã da ideia da ideia de Estágios Especiais para pegar as Esmeraldas do Caos, porém, não vou negar que a ideia de exploração para encontrá-las nesse jogo pode ser um pouco mais satisfatória do quê a obtenção de Esmeraldas no Sonic 1 para Mega Drive. Como eu disse, os Sonics de Mega Drive costumam recompensar o jogador pela exploração, e acho que incorporar Esmeraldas do Caos uma extensão orgânica dessa ideia.

A maior frustração do mundo em pegar essa placa do Eggman

Outro elemento diferente em relação ao título de Mega Drive é como as placas de final de fase funcionam. Ao invés de ser algo simples, onde tem o rosto do Eggman, a placa é virada, e Sonic fica presente nela, o título de 8-Bits opta por uma gimmick que leva um tempo para o jogador aprender.

Basicamente, dependendo da quantidade de anéis que o jogador possui, a placa irá mostrar imagens diferentes. Se o jogador pegar menos de 50 anéis, e possuir um número que não seja terminado com 0 ou 5, o jogador recebe uma placa com o rosto do Eggman, indicando que não vai ganhar nada.

Você já viu essa placa? Eu não.

Se o jogador pegar menos de 50 anéis, e possuir um número que seja terminado com 0 ou 5, a placa mostra um anel, que dá dez anéis extras ao jogador. Mais elusiva ainda é a placa que mostra o rosto do Sonic, que dá um 1-Up ao jogador. Nem sei o que deve ser feito para pegar ela, sem brincadeira. Em todo meu tempo jogando durante esses anos, nunca consegui cruzar caminho com ela.

Observe Sonic ser lançado de um canto pra outro ao mínimo toque nesses bumpers verdes e amarelos.

Porém, o aspecto de Estágios Especiais ainda está presente no lançamento para Master System. Porém, dessa vez, o foco está em ganhar vidas, continues e pontos. Sonic é atirado em um lugar repleto de camas elásticas, "bumpers" e anéis. Os estágios são mais simples e coerentes, porém, que nem os do originais, é fácil perder controle do Sonic neles. Por isso, é essencial que você evite que o Sonic toque nos bumpers verdes e amarelos, se não, dá ruim.

Na maior parte, estive comentando sobre a versão para Master System, mas permita me dar minha opinião sobre a versão do Game Gear: Ela é boa, que nem a sua versão para console. No Game Gear, tem algumas melhorias, até. Acho que a mais notável seria em Jungle Zone Act 2, onde ao invés de a tela "comer" o Sonic, o Sonic pode cair normalmente, sem medo de morrer.

Porém, um lance quanto ao lançamento portátil, que você vai ver eu comentando em outros lançamentos, é o screen crunch. Para o jogo caber no Game Gear, o tamanho da tela foi diminuído, ou seja, o jogador tem menos tempo pra reagir quanto ao que está vindo na frente dele. Apesar de que na maioria das vezes, não prejudica muito o desempenho do jogador. Porém, a Esmeralda do Caos de Sky Base requere um pulo cego de fé, para um lugar que, se o jogador não soubesse, acharia que o levaria a morte certa.

Onde está o nariz desse ouriço?

Porém, tem um lance do Sonic para Game Gear que sinto que quase todo comenta ou menciona quando joga ou vê um pouco do jogo: Sonic está sem nariz. Provavelmente um erro de sprite, ou talvez um sprite um pouco maior, mas olhando para o sprite do Sonic neste jogo, ele não tem quase nenhum nariz. O Sonic está dando uma de Kuririn.

É nesse parágrafo que comento sobre a música, e sinto que não tem muito o que eu preciso adicionar quanto a que os outros já disseram: ela é fenomenal. Yuzo Koshiro arrebentou com a música do jogo, criando composições extremamente memoráveis, tão boas quanto a versão para Mega Drive. Bridge Zone acabaria sendo usada na música tema do Tails em Sonic Adventure, Believe in Myself. A composição usada para os créditos acabariam sendo usados em parte de Savannah Citadel, em Sonic Unleashed. Koshiro criou um legado forte na série Sonic com sua música para esse jogo, e é mais do quê merecido.

Um aspecto negativo que persiste no jogo como um todo, no entanto, são os constantes slowdowns. O jogo parece que está sofrendo quase que constantemente para rodar. Como resultado, eu involuntariamente acabei desenvolvendo um timing de como eu devia operar nos momentos que o jogo está fluindo liso, e quando ele está com uma velocidade sem nenhum blast-processing. É um negativo, que infelizmente, impacta um pouco na experiência. Mas não é o suficiente para arrastar o jogo pra baixo como um todo.

Devo proceder numa velocidade moderada dentro dos padrões no qual esse console 8-bit me permite.

No fim, Sonic the Hedgehog para Master System/Game Gear é uma experiência muito boa. Até hoje discussões na fanbase são realizadas a respeito de qual é a versão superior do jogo, se é a do Master ou a do Mega. Eu pessoalmente vejo ambos títulos como no mesmo nível. É uma peça que serve de boa companhia para a outra. Ambos complementam um ao outro.

Eu dou para Sonic the Hedgehog a nota de [8/10].

2 comentários:

Efraim Leonardo disse...

Parabéns pelo review, cara! ficou demais!

Esse foi o primeiro Sonic que joguei, pra falar a verdade, foi o primeiro jogo de vídeo game que tive contato.

São essas diferenças da versão original que fazem esse jogo entrar fácil no meu top 10 de jogos favoritos do Sonic.

Outra coisa que chama a atenção em Sonic 1 de Master System é o seu fator replay. Putz, eu devo ter jogado umas 50 vezes, sem brincadeira! Ele é extremamente viciante!

Eu gosto da ideia de autoscroller em Sonic, eu aprendi a ter timing de pulo nessas fases.


Ah, pra conseguir uma vida na placa de fim de fase você tem que passar com uma quantidade especifica de anéis. No act 1 da Green Hill, por exemplo, se completar a fase com um numero entre 11 e 19 anéis você ganha uma vida.

Sucesso pra você!

Otávio "Azul" Augusto disse...

Muito obrigado pelo comentário, Efraim! Fico muito lisonjeado! Irei tentar esse lance de pegar entre 11 e 19 anéis pra pegar uma placa com o rosto do Sonic.