quarta-feira, 22 de setembro de 2021

GIBIS: Sonic the Hedgehog (1991)

 

"Maldito seja Sonic! Eu não quero uma consulta com o urologista!" Disse Robotnik.

Sonic the Hedgehog Number 1 (1991)
Lançamento: Outubro de 1991

Como eu disse na minha introdução à retrospectiva da série Sonic, uma coisa que aqueles que são fãs novos da série têm que se acostumar é que Sonic possui inúmeras continuidades diferentes. Sonic pode ser um cara que faz parte de uma guerrilha contra um ditador tirânico, ao mesmo tempo que ele pode ter como família um policial de uma cidade interiorana dos Estados Unidos e uma Veterinária. O fato de tantas continuidades diferentes existirem resultou em várias brigas entre fãs durante décadas, com cada um acusando sua interpretação de Sonic ser a superior.

Desde a concepção do Sonic, ele já tinha essa sina de possuir diferentes continuidades. A SEGA of America bolou uma nova origem pro Sonic, que ia contra o que a SEGA of Japan tinha planejado. Em 1991, um grupo de funcionários da SEGA of America sentaram para definir o que seria a lore para Sonic no ocidente. E assim, veio a ser criado a famosa "Bíblia do Sonic". Eventualmente a SEGA of Japan criaria a sua própria uns anos depois, e décadas depois em 2010, uma nova versão da Bíblia seria feita, que entraria em vigor em Sonic Colors. Basicamente, Sonic possui várias bíblias.

O que vou falar hoje é a primeira bíblia, sendo a dos Estados Unidos. Ela passou por várias revisões, mas uns aspectos se encontram consistentes entre todas elas. Os jogos do Sonic se passam em um Planeta chamado de Mobius, não (aparentemente) a Terra, e o Sonic teria uma história de origem definida, ao invés da origem Japonesa, onde só é dito que Sonic e Eggman já batalhavam faz anos antes dos eventos de Sonic 1.

Pra então divulgar o jogo ainda mais, em Outubro de 1991 foi vendido junto com a revista Electronic Gaming Month a primeira e única edição de Sonic the Hedgehog. O gibi é basicamente a bíblia do Sonic, só que adaptada para o formato de quadrinhos. Ele oferece uma perspectiva interessante sobre a lore originalmente cogitada para o ouriço azul no ocidente, e também nos dá uma visão sobre a criação de uma personagem amada (e odiada) por muitos fãs até hoje, a Sally Acorn.

"Eu te peguei agora, Sonic!" Se prepare pra repetir isso por mais uns 30 anos, Robotnik.

No Planeta Mobius, uma comoção está ocorrendo. Robotnik, junto com seu exército de robôs, persegue Sonic, um ouriço azul capaz de correr em velocidades supersônicas. Sonic consegue fazer Robotnik comer poeira, e parte para destruir uns badniks, porém, com cuidado, já que seus amigos se encontram dentro desses robôs. Ao libertar seus amigos: Chirps, Sally Acorn e Johnny Lightfoot, eles pedem pro Sonic ir atrás do benevolente cientista, Dr. Ovi Kintobor, para lidar com a ameaça do Robotnik. Porém, Sonic dá as más notícias para os seus amigos: Kintobor É o Robotnik. E em seguida, procede a contar sua história de origem.

Basicamente, Sonic originalmente era um ouriço marrom, que vivia cavando túneis que nem ouriços normais. Um dia, Sonic acaba indo parar no laboratório de um cientista chamado de Dr. Ovi Kintobor enquanto cavava um túnel. Kintobor estava no meio de uma comemoração, por ter finalizado uma máquina chamada de Retro Orbital Chaos Compressor (ou R.O.C.C.), e então vê o Sonic. Ambos acabam virando amigos.

Pode colocar texto preto em fundo vermelho? Tô tendo que esforçar meus olhos pra ler isso.

O R.O.C.C. basicamente é uma máquina que utiliza o poder de joias místicas, chamadas de Esmeraldas do Caos, para remover todo o mal do mundo. Kintobor demonstra intenções de fazer o mundo um lugar mais seguro, porém, a máquina ainda não está acabada, e precisa de mais umas observações. 

Enquanto isso, Kintobor descobre o potencial à cerca da velocidade do Sonic, e decide realizar experimentos relacionados a ela. Assim, ele dá pro Sonic uma esteira, e pede pra medir a velocidade dele. Sonic quebra ela, gerando uma explosão, e como resultado do "efeito cobalto", ele acaba ficando azul. Kintobor então dá tênis resistentes à fricção como presente pro Sonic.

"RRRRRRRRRRRRRICO, SUAVE!"

Um dia fatídico, enquanto Sonic e Kintobor relaxavam, Kintobor pede ao Sonic uma soda e um ovo, porém, um acidente acaba fazendo com que Kintobor derrame a soda sobre o R.O.C.C., fazendo com que a máquina libere "10.000 Volts de Energia Maligna pura", com o pobre cientista segurando um ovo enquanto sofria o choque. A máquina explode, e após a explosão, Dr. Ovi Kintobor vira o maligno Dr. Ivo Robotnik. 

A explosão envia as Esmeraldas do Caos para outra dimensão, e então, começa uma corrida entre Sonic e Robotnik para ver quem consegue obter as seis Esmeraldas do Caos primeiro. E evitar que o malvado cientista as use para dominar o mundo.

Como dá pra ver, a lore que esse gibi apresenta é bem diferente do que estamos acostumados aos jogos hoje em dia. Minha opinião dessa lore é um pouco mista, visto que ela é ainda mais elaborada em obras como Sonic the Comic, e deixa ela mais intrigante e trágica. Porém, ao mesmo tempo, eu gosto de que Eggman tenha intenções malignas por conta própria, ao invés de um acidente tenha o deixado maligno. O ângulo de Sonic e Eggman serem amigos pode funcionar, mas em um contexto mais Sonic Boom

Essa lore também faz questão de explicar coisas que, em retrospectiva, não precisavam ser explicadas. O Sonic é um ouriço, ouriços supostamente deviam ser marrons, então um acidente envolvendo ciência deixou ele azul. Isso deixaria as coisas mais confusas para Amy, que é rosa. O Knuckles é vermelho, Tikal é laranja. O elenco do Sonic é simplesmente colorido, e nasceram assim mesmo.

Dá pra entender essa mentalidade em 1991, numa época onde só se tinha Sonic, Eggman, e os animais amigos do Sonic. É estranho ter um ouriço azul no meio de um monte de animais "normais". Mas é o lance de desenho animados, simplesmente aceite.

Tem certeza que o cara que tem o nome "Robotnik" não tem relação nenhuma com "Kintobor"?

Falando de amigos animais, eles também tem um papel prevalente nesse gibi, que nem foi no Mangá promocional. A função deles é mais ser o "stand-in" para o leitor, pra permitir que Sonic explique o que está rolando entre ele e o Robotnik. Um elemento curioso quanto a eles é que eles tiveram sua lore levemente alterada pra mídia Americana. Mudanças de nome, gênero, assim como um papel maior pra eles. Basicamente, os animais encontraram um Sonic órfão, e se uniram para criá-lo. Preparem-se para mais outra explicação envolvendo os animais e o papel deles:
  • Picky, o porco, ganha o nome de Porker Lewis, sendo o responsável por ensinar o Sonic a temer o fogo, e como lidar com ele.
  • Pocky, o coelho, ganha o nome de Johnny Lightfoot, sendo o responsável a ensinar o Sonic a controlar sua velocidade.
  • Ricky, o esquilo, passa a ser uma fêmea, e agora tem o nome de Sally Acorn, ela sendo responsável por ensinar o Sonic a como derrubar frutas de árvores para derrubá-las em inimigos que não suspeitam no chão. Ela também ensinou ele a comer nozes.
  • Clucky, a galinha, ganha o nome de Chirps, sendo o responsável por ensinar o Sonic a fazer o seu spin attack, e virar uma bola para atacar seus inimigos.
  • Rocky, a morsa, ganha o nome de Joe Sushi, sendo o responsável a ensinar o Sonic a nadar e mergulhar.
Um detalhe que vocês devem ter percebido é o envolvimento do nome "Sally Acorn", e aqueles que estão ligados, sabem que esse nome é usado por uma personagem que apareceria nos quadrinhos da Archie e no desenho animado Sonic SatAM. Sally sendo o interesse romântico do Sonic nessas obras.

Que personagem simpática, tomara que ela não seja odiada por uma parte da fanbase por conta de guerras de ship.

Basicamente, como isso veio a acontecer é o seguinte: durante a localização de Sonic 1 para o Ocidente, o Ricky passou a ser uma garota, e agora tinha o nome de Sally Acorn. DiC, quando desenvolvendo o desenho animado de Sonic SatAM, acabaria usando o conceito de Sally Acorn apresentado pela SEGA of America, e a transformaria no interesse romântico do Sonic. Sally acabaria tomando seu próprio rumo na série Sonic, virando uma personagem amada por bastante fãs, e que hoje, atualmente se encontra aposentada das mídias oficiais de Sonic por questões envolvendo o cancelamento de Archie Sonic, e uma situação ambígua envolvendo direitos autorais. Vou tentar ser breve, mas basicamente, a SEGA tem direitos autorais sobre o nome "Sally Acorn", que esse personagem é uma garota e que é uma esquila. O design dela que passamos a associar que veio a ser usado em SatAM e Archie Sonic está mais no ar. Alguns dizem que a SEGA tem direitos autorais sobre esse design, outros dizem que a DiC que possuí, ou a Wildbrain.

Isso também gerou uma discussão entre fãs, sendo o fato de qual seria a data de "aniversário" dela. Já que o nome Sally Acorn existia no lançamento de Sonic 1, sendo atribuído à versão localizada do Ricky, então ela veio ao mundo em 23 de Junho de 1991? Ou, já que a primeira publicação de fato envolvendo sua adaptação americana foi neste gibi de 1991, ela foi lançada em Outubro de 1991? Ou, já que o design que associamos a ela só veio a aparecer em Dezembro de 1992 nos gibis da Archie, devíamos contar esse como o lançamento dela? É um debate que acho que somente os fãs da Sally se importam, hahaha.

E acho que já fica aparente que sou um fã enorme dela, se localizando meu Top 5 de personagens favoritos de toda a série. Eu irei entrar em mais detalhes quanto à ela quando ela fazer sua aparição com seu visual e personalidade definitivos em Archie Sonic e SatAM. Mas basicamente, tecnicamente, esse gibi contém a primeira aparição da Sally em um material oficial de Sonic que não seja o manual de Sonic 1 para Mega Drive.

"Devo proceder numa velocidade que me permita manter minha inércia com o chão, e atravesse esse loop."

Ah é, eu estava falando do gibi promocional de 1991, perdão pela tangente (é o que a Sally faz com a cabeça de um sujeito). Depois de informar os seus amigos quanto a situação do Robotnik, Sonic parte atrás do cientista maligno, nós vemos o ouriço azul correr por vários set-pieces do Sonic 1 para Mega Drive, e quando parece que o Doutor vai derrotá-lo, Sonic encontra um Warp Ring, e é enviado para o "Warp of Confusion" (sendo o nome que o manual americano de Sonic 1 dá para os Special Stages), onde o nosso herói consegue pegar uma Esmeralda do Caos.

Em seguida, Sonic é mandado diretamente para a Labyrinth Zone, onde ele nada em velocidades super sônicas para se livrar do Badnik Jaws. Que nem ele faz no mangá que eu fiz uma review antes. Mídias de Sonic do começo dos anos 90 continuariam fazendo esse erro, onde o Sonic seria mostrado capaz de nadar, enquanto nos jogos ele afunda que nem uma pedra. É nesse aspecto da lore onde se encaixa o Joe Sushi ensinando o Sonic a nadar.

Japão e Estados Unidos: Unidos em fazer o Sonic ser capaz de nadar em mídias que não fossem os jogos no começo dos anos 90.

Sonic continua sua perseguição pelo Robotnik, onde ele passa correndo pela Star Light Zone, para então finalmente chegar na Scrap Brain Zone. É então nela que Robotnik, mais uma vez, que nem no mangá, oferece um ultimato pro Sonic, exceto que esse é um pouco mais tangível. Ou Sonic salva seu amigo animal Porker Lewis, ou ele perde a Esmeralda do Caos que ele coletou para o Robotnik. Ao invés de entrar em God mode, Sonic salva seu amigo. Permitindo Robotnik ficar com uma esmeralda do Caos.

Porker Lewis se desculpa pro Sonic, mas Sonic diz que tá de boa, e que a vida dele era mais importante. Porém, o herói azul diz que essa batalha está longe de terminar, e então o narrador pede pro leitor continuar sua aventura jogando Sonic the Hedgehog no seu SEGA Genesis. No fim do dia, isso é um gibi promocional, né.

Que nem o mangá do Sonic de 1991, o maior valor desse gibi está em como ele oferece uma visão sobre uma continuidade diferente do Sonic. Esse gibi é basicamente uma peça de acompanhamento ao mangá. Leia um, pra depois partir pro outro, e ver as diferenças entre ambos. O plus sendo uma olhada sobre a origem da Sally Acorn.

Por fim, quero comentar um elemento da lore que acho fascinante. Esse gibi conseguiu prever (talvez por acidente) a chegada da sétima Esmeralda do Caos em Sonic 2. O Kintobor comenta que para conseguir livrar Mobius de todo o mal, ele precisava encontrar mais uma esmeralda. Então, nós vemos anteriormente que o R.O.C.C. em si já contém seis Esmeraldas do Caos. Ou seja, adicionando essa esmeralda a mais, obtemos sete Esmeraldas. O único erro é que a Esmeralda que seria adicionada em Sonic 2 seria uma de cor ciano, enquanto o gibi comenta sobre uma cinza, que já existia desde o primeiro jogo. Seria o artista errando a quantidade de esmeraldas que deviam estar na máquina, e adicionou uma a mais? Altamente provável, mas mesmo assim, é divertido de se especular.

"Estou jogando baralho, Sonic. O que acha que tô fazendo?"

A arte do gibi em si é boa, só sofre do problema de ser levemente amadora, ter (na minha opinião) linhas muito grossas, e cores muito fortes. O gibi também faz combinações de cores estranhas, fazendo texto preto ser bem difícil de ler em um fundo vermelho. O Mangá, entre as duas HQs gratuitas para divulgar o jogo, possui a arte superior.

Outro aspecto que quero aproveitar pra comentar é o design americano do Sonic. Ele é usado extensivamente nesse gibi, e também está presente na capa para Sonic 1. Esse design foi concebido pelo Greg Martin, após a Madeline Schroeder alterar alguns dos aspectos do Sonic para o ocidente, removendo a namorada humana dele, a banda e suas presas. A outra mudança feita foi no design dele, onde Schroeder disse que o design do Sonic precisava exilar mais "atitude" e que ele era "descolado", e menos "fofo", o que nos rendeu no design Americano do Sonic.

Usando topetes desde 1991.


A SEGA do Japão aceitou relutantemente as mudanças envolvendo as presas, namoradas e bandas, mas continuou usando o design Japonês do Sonic, visto que eles acreditavam que um design mais "fofo" pro Sonic funcionaria no Japão. Minha opinião sobre o Sonic do Greg Martin: eu gosto dele! Eu não vou negar que o design Japonês é o superior, mas eu gosto bastante do design Americano também. Ele realmente emana uma aura de personagem americano dos anos 90, uma cápsula do tempo perfeita. Isso sem contar que as ilustrações que Greg Martin fez pra a série Sonic são extremamente icônicas, e eu gosto mais da composição delas do quê as capas Japonesas.

O aspecto mais notável do Sonic americano é como os espinhos dele são mais planos (com alguns fãs fazendo comparação com barbatanas de um tubarão), eles estando mais no formato de um "topete", o Sonic tem um >:) mais constante na cara dele, e ele é um pouco mais "gordinho" que a versão Japonesa, apesar dela em si também já ser um pouco gordinha também.

Mas enfim, acho que já entrei em tangentes o suficiente, é hora de dar meus pensamentos conclusivos. Sonic the Hedgehog é um gibi bacana, mas o valor histórico da série é o que mais carrega ele. Leia só se tiver curiosidade.

Eu dou para o gibi promocional Sonic the Hedgehog a nota de [6.5/10]


Nenhum comentário: